Minha primeira lição sobre sustentabilidade aprendi com a minha mãe.
No final da década de 90 e início dos anos 2000, a reciclagem não era comum. Pra falar a verdade, era uma missão complicada, já que não existia coleta seletiva em São Paulo e os pontos de coleta eram poucos.
Nós morávamos no bairro Campo Belo, zona Sul de São Paulo e o ponto de coleta mais próximo era o Corpo de Bombeiros ao lado do Aeroporto de Congonhas. Não tenho a menor ideia de como ela descobriu isso, mas ela descobriu.
Guardo na memória a imagem dela juntando sacos e sacos de lixo reciclável, colocando-os no carro e levando-os até o Corpo de Bombeiros. Ela arranjava tempo pra isso: fosse antes de nos levar até a escola ou no caminho do mercado.
Minha mãe nunca estudou sobre sustentabilidade. Aliás, na época, o termo era pouquíssimo difundido e se limitava aos acadêmicos. A reciclagem estava em seu início e o Brasil se despontava como um dos pioneiros, mas tudo era muito precário.
Minha mãe… uma mulher comum, dona de casa, trabalhava fora também, tinha marido e pai para dar carinho e duas filhas para cuidar. Apesar de sempre termos sido boazinhas, nossa saúde nunca ajudou. Eu, asmática e cheia das alergias, não saia do hospital; minha irmã com fissura labiopalatal e se dividindo entre as inúmeras cirurgias plásticas e a fonoaudióloga.
Não devia ser fácil para a minha mãe, mas mesmo assim ela arranja tempo para reciclagem. Ela nunca usou o trabalho, a maternidade ou a família como desculpas para não reciclar. Ela simplesmente foi lá e fez porque achava ser certo, porque achava fazer um bem para a humanidade e para o planeta. Gaia agradece! Ela doou um pouquinho dela para o mundo. Para você. Para seus filhos terem um mundo melhor.
Eu, bacharel em Biologia e mestre em Gestão Ambiental, aprendi a reciclar com a minha mãe, aos 13 anos de idade. Aos 34 anos de idade venho escrever esse texto para lhes mostrar o poder do exemplo. Também venho lhes fazer a seguinte pergunta: Qual a sua desculpa?
Hoje temos coleta seletiva em muitos lugares. Onde ela não existe, ainda assim podemos contar com inúmeros pontos de coleta que podem facilmente ser encontrados na internet. E se ainda assim você tem dificuldades, ligue para os fabricantes dos produtos comprados, pois eles têm a obrigação por lei de lhe ajudar.
Você pode dizer que é muito ocupado(a), que não tem carro, que se divide entre trabalho e família. Eu não vou te julgar por não reciclar. Eu só vou te pedir para se lembrar da minha mãe.